Pastora
Fiquei pensando, enquanto deixei a TV parada num canal de TV que mostrava uma mulher bonita, bem maquiada, com o cabelo extremamente enfeitado, mas vestida de um jeito que destoava do conjunto. Isso me chamou a atenção, mais do que os berros desagradáveis, agudos e desafinados que ela dava.
Havia algo de muito errado: a roupa era sóbria demais, não combinava com o resto, tudo soava falso. O contraste era chocante. Mas ela me pareceu uma mulher vaidosa, preocupada em ser bonita. Era claro que só estava interpretando um papel, com um texto muito bem decorado. Uma atriz medíocre, representando um personagem comum hoje em dia: o de guia da devoção de tanta gente. E o cumpria com a perfeição exigida, dizendo coisas que todos deveríamos saber. Todos, mesmo. Mas que muita gente, pelas mais diversas razões, esqueceu. E é esse esquecimento que vem enriquecendo tantos atores: desde Paulo Coelho, passando por outros milhares de autores de auto-ajuda, até pastores e padres de todas essas religiões ditas “cristãs”.
A maioria de nós perdeu a fé. Não é questão de religião, tem muito mais a ver com a nossa auto-estima.
As pessoas, de todas as categorias, querem alguém que lhes diga que seus problemas vão ser resolvidos, de alguma maneira. E essa maneira varia do “Jogo do Milhão” até à mais simples palavra de um pastor qualquer, não interessa quem seja, só é importante a fé que ele transmite. Vamos ser ricos, o nosso companheiro vai ser fiel e comportado para sempre, vou ser bonito, atraente, herói, e por aí vai. Essa vontade toda descamba nos concursos mais variados, e vai até aos gritos mais endoidecidos, expulsões de demônios, pastoras de chapéus, padres cantores, reality shows, mães de santo... Tudo misturado.
O que todos querem, ou melhor dizendo, o que queremos, é uma palavra de conforto, uma promessa de sucesso, o mais instantâneo possível, como sempre. Afinal, somos brasileiros. Desejamos uma esperança de que vamos nos dar bem. Urgentemente. De que seremos o que sonhamos, mesmo que tenhamos que depender de estrelas, ou do universo, ou de qualquer coisa mais importante do que nós, contanto que esteja a nosso favor. Vai cair de lá, do céu, se formos bonzinhos e recitarmos a decoreba devida. Queremos uma certeza de que vamos ser felizes, de que teremos poder. Desejamos saber que somos invencíveis, campeões sempre, contra todas essas coisas que nos ameaçam hoje em dia. Queremos proteger os nossos contra tudo. Violências e injustiças de toda a espécie. Não temos governo, estamos sós, à mercê. E não nos esforçamos. Dependemos. Lá de cima.
Isso não é uma questão religiosa. Nem intelectual. É só política, ou melhor dizendo, uma total falta de consciência política. É a mais completa ignorância das maneiras de ser gente. Ninguém aqui sabe como lutar, muito pouca gente sabe da força que tem simplesmente porque existe. Exigir, não faz parte de nenhum dicionário popular. Cidadania, nunca ninguém ouviu falar. Educação, muito menos. Há quanto tempo esquecemos de ser simplesmente responsáveis? Deveríamos deixar de servir de escada, e tentar subir, sozinhos, escalar, degrau por degrau. Um por vez e cada um por si. Arriscando, mas chegando lá, por conta própria. Por nosso esforço. Sem deixar nunca de estender a mão pra quem vem depois. É uma questão de investimento em causa própria. Só isso.
Fiquei pensando, enquanto deixei a TV parada num canal de TV que mostrava uma mulher bonita, bem maquiada, com o cabelo extremamente enfeitado, mas vestida de um jeito que destoava do conjunto. Isso me chamou a atenção, mais do que os berros desagradáveis, agudos e desafinados que ela dava.
Havia algo de muito errado: a roupa era sóbria demais, não combinava com o resto, tudo soava falso. O contraste era chocante. Mas ela me pareceu uma mulher vaidosa, preocupada em ser bonita. Era claro que só estava interpretando um papel, com um texto muito bem decorado. Uma atriz medíocre, representando um personagem comum hoje em dia: o de guia da devoção de tanta gente. E o cumpria com a perfeição exigida, dizendo coisas que todos deveríamos saber. Todos, mesmo. Mas que muita gente, pelas mais diversas razões, esqueceu. E é esse esquecimento que vem enriquecendo tantos atores: desde Paulo Coelho, passando por outros milhares de autores de auto-ajuda, até pastores e padres de todas essas religiões ditas “cristãs”.
A maioria de nós perdeu a fé. Não é questão de religião, tem muito mais a ver com a nossa auto-estima.
As pessoas, de todas as categorias, querem alguém que lhes diga que seus problemas vão ser resolvidos, de alguma maneira. E essa maneira varia do “Jogo do Milhão” até à mais simples palavra de um pastor qualquer, não interessa quem seja, só é importante a fé que ele transmite. Vamos ser ricos, o nosso companheiro vai ser fiel e comportado para sempre, vou ser bonito, atraente, herói, e por aí vai. Essa vontade toda descamba nos concursos mais variados, e vai até aos gritos mais endoidecidos, expulsões de demônios, pastoras de chapéus, padres cantores, reality shows, mães de santo... Tudo misturado.
O que todos querem, ou melhor dizendo, o que queremos, é uma palavra de conforto, uma promessa de sucesso, o mais instantâneo possível, como sempre. Afinal, somos brasileiros. Desejamos uma esperança de que vamos nos dar bem. Urgentemente. De que seremos o que sonhamos, mesmo que tenhamos que depender de estrelas, ou do universo, ou de qualquer coisa mais importante do que nós, contanto que esteja a nosso favor. Vai cair de lá, do céu, se formos bonzinhos e recitarmos a decoreba devida. Queremos uma certeza de que vamos ser felizes, de que teremos poder. Desejamos saber que somos invencíveis, campeões sempre, contra todas essas coisas que nos ameaçam hoje em dia. Queremos proteger os nossos contra tudo. Violências e injustiças de toda a espécie. Não temos governo, estamos sós, à mercê. E não nos esforçamos. Dependemos. Lá de cima.
Isso não é uma questão religiosa. Nem intelectual. É só política, ou melhor dizendo, uma total falta de consciência política. É a mais completa ignorância das maneiras de ser gente. Ninguém aqui sabe como lutar, muito pouca gente sabe da força que tem simplesmente porque existe. Exigir, não faz parte de nenhum dicionário popular. Cidadania, nunca ninguém ouviu falar. Educação, muito menos. Há quanto tempo esquecemos de ser simplesmente responsáveis? Deveríamos deixar de servir de escada, e tentar subir, sozinhos, escalar, degrau por degrau. Um por vez e cada um por si. Arriscando, mas chegando lá, por conta própria. Por nosso esforço. Sem deixar nunca de estender a mão pra quem vem depois. É uma questão de investimento em causa própria. Só isso.
