terça-feira, fevereiro 05, 2002

Querer

Queria estar e não estou.
Queria saber e não sei.
Tenho medo de adivinhar.

Dóem, a minha ausência
E as outras presenças.

Dói não poder.
Nem pegar, nem sentir
O gosto.

Confio muito.
Conheço o jeito,
O tamanho,

As linhas tão paralelas
Às minhas.

Mas me ameaça,
Essa distância.

Será que meu cheiro é único?
E as minhas formas?
Estarão marcadas pra sempre?

Será que sou tão macia
Para ser inesquecível?

Será que sou tão tudo,
Quanto o que está aqui comigo,
Dele?

O tempo passa, mas são só dias.
Existe um relógio que roda mais devagar.
No mesmo sentido.

É o meu.
Paciente, silencioso
Porque é pleno
E sabe
Quase tudo.



Amanhecer

Está amanhecendo, aqui.
E estou só,

Acordada.

Acesa, mas diferente.

Sou fiel, e me orgulho disso,
Porque é meu,
Vem de mim, de dentro pra fora.

Ninguém me pediu,
Nem recebi ordem nenhuma

É por mim, uma escolha,
Só minha,
No meio de tantas.

Vontade exclusiva de ser de um.

Por minha conta,
Minha responsabilidade

Escolhi.
Optei, por mim e para mim,

Estou na menopausa.
E fiz uma pausa, minha.

Para poder pensar,
No que eu quero,

E pra quem eu quero,
Me dar.

Nem é meu,
Agora,
Todo.

Mas eu dou

E vamos ser,
Ele e eu,
Um dia,

Um inteiro.

Tormenta
Não há nada mais lindo do que uma tempestade,
Uma tormenta elétrica,

Raios
Estrondosos, brilhantes
Que iluminam, assustam,
Surpreendem.

Atraem
E afugentam,
De repente,

Como todas as melhores coisas.

É um risco.

O desconhecido
De sempre, tão acomodado
Fica desperto.

A maioria tem medo.
De se aproximar.
Mesmo tendo a vontade
Curiosa, de mudar.

Só vão saber
Os que ficarem
Do lado de fora,
Expostos
Ao léu,

N o meio da tempestade,
De peito aberto.
À vontade.

Nus e
Atormentados,
Pelos raios.
Molhados.
Sofrendo tudo,
Os piores choques

Mas confiantes.

Esses,
Serão os primeiros e únicos
A entrar, por fim,
Bem fundo.

Vão poder penetrar
O arco-íris.