domingo, julho 20, 2003

Sortuda

Sou uma pessoa de sorte, sempre tive sorte. Passei por poucas e nem t?o boas coisas, mas aprendi com todas elas, continuo aprendendo, e estou bem viva.
Acabei de aprender mais um pouco, ainda agora, porque coloquei o meu nome num desses mecanismos de busca da Internet, e me achei numa foto bonita, numa coluna social, mas também achei uma biografia do M?rio Reis, meu primo, quase irm?o do meu pai.
Tenho o mesmo nome da m?e dele, que, pelo que soube, morreu louca num asilo.
Sempre gostei muito do M?rio, desde pequenininha, ele cantava, era alegre, fechado, mas se jogava para fora pela m?sica, pela voz. Era brincalh?o, amigo, solid?rio, generoso, o que ali?s acho que é uma marca da fam?lia do meu pai, a generosidade extrema. Minha av?, m?e do meu pai, que n?o tinha nada a ver com o M?rio, era Castro Barbosa, de uma fam?lia que, acho eu, deve ter sido revolucion?ria naquela época, porque teve v?rios artistas. Um comediante que fez hist?ria, fazia aquele “s? tem tan-tan” no “Balança mas n?o Cai”, um cantor meio escondido, mas de quem eu j? vi até um CD, e um médico-cientista super avançado e poeta, o meu Tio Nelson.
J? o meu avô por parte de pai foi um médico de fam?lia, do comecinho do século, da Tijuca, que l? pelos anos 20 e tantos largou a profiss?o para ser dono de uma f?brica de tecidos. Meu pai, formado em engenharia, também foi um grande artista. Depois da revoluç?o, tomando conta da F?brica Bangu, devia aos governos, mas arranjava jeitos e jeitos para tirar os oper?rios da f?brica dele da pris?o pol?tica ao mesmo tempo em que batalhava para conseguir dinheiro para continuar levando a f?brica e a vida dos 5000 oper?rios, portanto fam?lias, que que dependiam dele naquela época t?o conturbada. Como ele deve ter sido artista, caramba! E tenho tudinho aqui, comigo, documentado, todos os agradecimentos dos sindicatos, dos tecel?es, dos fiadores, etc, todos agradecendo a liberdade de fulanos e cicranos. Gente dele.
Ele ficou endividado ao governo, aos governos da
Redentora, ao Banco do Brasil. A f?brica faliu, foi dada e encerrada.
Mas ele sempre foi t?o correto. Digno.
Também tenho cartas do Prestes, uma pessoa de bem e do bem, agradecendo doaç?es, contatos, ajuda nessa mesma época, a mais braba de nossa hist?ria.
Sou muito feliz por ser quem sou, sortuda, por ter tido a chance de aprender, de conviver com essas pessoas t?o ricas, de fazer parte, de representar essas fam?lias de ter os filhos que tenho, e de estar aqui hoje, feliz ao lado do meu companheiro. Que achei, encontrei, mas que j? deve ter feito parte dessa hist?ria, algum dia. Foi s? um reecontro.
Obrigada, meu Deus.