sexta-feira, junho 25, 2004

Sem fração

Amo só gente inteira
Detesto metade, fragmentos.

Gosto de franqueza,
De repostas em que eu possa acreditar,

Respeito pessoas, não projetos de gente.

Gosto de idéias, não aceito preconceitos.

Acredito em gente que pensa,
E se questiona.
Que evolui.

Creio em amizades, são a minha força.
Mas só nas francas e verdadeiras.

E isso custa tempo.
Quase uma vida.

Que bom que ainda tenho a minha.
Leonel Brizola

Morreu um homem de bem,
Estou triste.

Foi-se um socialista, um parceiro do meu pai,
Um cara, dos poucos,
Que também acreditou que o bem-estar dos outros
Corresponderia ao seu.

Sei que ele não achou o melhor caminho,
Não foi um bom governante no dia a dia,
Cercou-se mal.

Mas deixou obras fundamentais para o nosso diário.
É vivido,
O seu trabalho!

Era uma peste, mas sempre desafiou,
Provocou,

Disse grandes verdades,
Implicou como ninguém,

Era franco,
Absoluto.
Assumiu posições,
Estimulou e acendeu
Todas as situações,
Contra e a favor.

Não foi ladrão.
Nunca corrompeu,

Devem haver aí as contas que vão provar.

Clamou,
Berrou,
Urrou,

Errou também.
Mas disse a verdade.


Morreu,
Iluminando idéias,

Espero, rezo,
Torço
Pra que alguém tente,
Ser parecido,
Pelo menos.

É imprescindível.

Vai fazer muita falta.
LB2

Há pessoas que nos estimulam.
E há as que sempre tentam acabar com a gente.

Existe isso em família,
E também em muito em casais.

Mas o pior é que existe muito isso num país.

Existe gente que se faz de feliz,
Existe gente que tapeia,
Muita gente que engana.

Mas existe pouca gente que estimula,
Que provoca verdades.

Somos tão confortáveis tendo tudo escondido.

Como é bom um edredon de penas de ganso.
Nos mantém tão quentinhos,
Protegidos.

Guerra? Nem em sonho!
Nada passa através de nossos imensos edredons.

Nem tiro, nem morte, nem notícia da nossa ex-empregada.

Alguém se lembra dela?
Era uma negrinha, que morava no morro logo ali do lado.
Já faz tanto tempo.

Mas a vida continua.

E como nos olhamos amanhã?
Todos falamos as mesmas inverdades,
Daqui, do nosso campo
De nossa piscina,

Ai, quantas rosas lindas nasceram aqui,
Tanto adubo.
E o campo dos outros, pra onde ta indo, pra onde foi?

Os outros roseirais,
Só espinhos,

São os mesmos do nosso time que roubam
E nós só sabemos reclamar.


Se fôssemos nós, faríamos mais,
Faríamos melhor?
Quem somos nós?

Queremos o nosso ou saberemos dividir?
Taí a questão,
Tantos já passaram por isso.

Escolho o que se saiu melhor.
Por que?

Por que eu amo
Tanto?
Assim?

Tomo mais conta dele do que da minha própria pele.
Minha idade cuida da dele.

Minhas rugas não existem quando estamos juntos.
Ele me ama com elas e
Eu o amo além da minha alma.
E da dele.

Sei lá, mas sinto que é coisa eterna.
Não é de hoje, nem de amanhã.

É coisa de família.
Tinha que estar aqui, agora.

Fiquei tão preocupada sempre, me sentindo tão inútil.
Hoje sei a minha utilidade,
Sou importante,

Com Partilho

Tudo

Sou cúmplice,
Pecadora,
Aprendiz.
Professora.

Mas sou só eu.
Com o meu amor.
Nossa vida é junta,

Mas tenho luz,
Sou acesa.
Iluminada,

Só tem uma coisa,
Ninguém me apaga:

Só eu, quando eu quiser.